Sim, é possível aprender neurocirurgia em 21 dias! Como? Da mesma forma que se aprende qualquer coisa em um livro que termine em “21 dias”. A única diferença são as consequências da sua atuação prática, como alguém capacitado, após estes 21 dias. Vamos comparar neurocirurgia com a sua linguagem de programação favorita.

Cenário A (Leigo) : Você comprou e leu “Aprenda a Programar na Sua Linguagem Favorita em 21 Dias”, mas você nem era um desenvolvedor pra início de conversa. Neste caso, os dois livros provavelmente deram o mesmo resultado e você não vai se sentir capacitado a praticar nenhuma das duas coisas porque qualquer técnica ou arte requer uma série de habilidades correlacionadas.

Cenário B (Sênior) : Você comprou e leu “Aprenda a Programar na Sua Linguagem Favorita em 21 Dias” e você já é um profissional formado e experiente. Neste caso, assim como um médico, você aproveitou anos de faculdade e atuação prática para assimilar estes novos conceitos. Você comparou o que leu com outros muitos livros e artigos já lidos sobre temas da mesma área. Mais importante, você correlacionou o conteúdo novo com aquilo que você aprendeu com seus erros, já que somente os seus erros foram capazes de te ensinar essas coisas. Em ambos os casos, neurocirurgia e sua linguagem de programação favorita, você se sente capaz de começar a atuar. A única diferença é que um erro gerará consequências diferentes para cada caso.

Cenário C (Iniciante) : Você comprou e leu “Aprenda a Programar na Sua Linguagem Favorita em 21 Dias”, porém, diferente do cenário A (Leigo) , você é um profissional da área. Contudo, diferente do cenário B (Sênior) você é recém-formado ou simplesmente não tem experiência. Neste caso, como profissional habilitado, você vai escrever código nesta linguagem que você acabou de aprender. Esse código provavelmente vai pra teste e depois produção com todos os riscos de não ter sido feito como deveria. No caso da neurocirurgia, por motivos já vistos, as coisas ainda seriam um pouco diferentes. Mesmo considerando-se a formação e a habilitação do profissional, seria considerado mais prudente algum tipo de residência ou estágio com aqueles que já dominam essa “arte”.

Diferentemente da medicina, na área de TI o número de pessoas trabalhando com desenvolvimento de software cresce em altas taxas todos os anos desde o início desse tipo de atividade. Isso significa que o número de pessoas no cenário C (Iniciante) é proporcionalmente maior na área de TI do que em áreas que não experimentam essa expansão constante por tantos anos. Isso significa que no seu projeto de software há grande chance de haver muitas pessoas que sabem bastante daquela “sua linguagem favorita”, mas que ainda vão levar alguns anos pra aprender todas as aquelas outras coisas que precisam ser aprendidas. Ou seja, um gestor aleatório, em uma empresa aleatória tem grande chance de lidar com esta questão ao longo dos muitos projetos de software onde venha a trabalhar ao longo de sua carreira. A temática da capacitação e as consequências da falta dela perseguirão o gestor tanto quanto prazos e escopos. Aliás, ela terá impacto direto sobre esses dois últimos mais do que se imagina.

Este é o atual estado da arte de fazer software. Uma grande profusão de técnicas e tecnologias disponíveis à disposição de profissionais com pouca ou nenhuma experiência em outras habilidades correlatas que levam algum tempo para serem apreendidas. De outro lado, um mercado faminto disposto a pagar por soluções, profissionais e pelos danos colaterais que alguma possível falta de experiência ou habilidade venha a causar. Do ponto de vista prático, essa prematuridade do profissional de TI e suas “aceitáveis” consequências, diferentemente de sequelas decorrentes de uma neurocirurgia, já costumam (ou deveriam) ser devidamente “precificadas”. Ou seja, na maioria dos casos, a avaliação é de que colocar um produto na rua cedo com a equipe possível, evitando as consequências do atraso ou da perda de uma oportunidade, é mais vantajoso do que tomar todos os cuidados e protocolos como de uma neurocirurgia. Contudo, este é o ponto de vista do “comerciante” de software e não do “artesão”. Do ponto de vista do desenvolvedor, adquirir conhecimentos horizontais sobre a arte de fazer software é sempre vantajoso, pois excelência técnica é um objetivo E um meio para quem pretende viver de software. Do ponto de vista do cliente ou usuário é necessário refletir se vale a pena pedir para o neurocirurgião terminar a cirurgia um pouco mais cedo sugerindo, por exemplo, que ele não perca tempo lavando as mãos.

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